25.10.10

O Facebook pergunta: em que estás a pensar?



…no tempo que dedico aos outros, e na falta de tempo que os outros tem para comigo, por acharem que o meu tempo não é tão importante como o deles. Talvez o erro seja meu, o meu relógio é dos antigos, encrava com facilidade com a aceleração do ritmo sanguíneo, coisa do sistema nervoso. Dizem os entendidos, que há uma ligação quase umbilical entre o relógio e o batimento cardíaco que faz toda a diferença no acerto dos tempos. Acredito! Vejo o ponteiro dos segundos a correr num ritmo infernal, sabe-se preso a um círculo que corre mais depressa que qualquer tempo. Os segundos não existem para gente que apenas conhece o seu tempo. No entanto, e diga-se em abono da verdade, que muitas vezes o marcador do meu tempo pára por falta de corda, induz-me em erro. Preocupado como sou, acabo sempre por chegar antes da hora real, aquela que é marcada em Inglaterra e que faz do Big Ben o meu relógio favorito. Bonito, grande, com uns ponteiros que saltam sempre que passam de minuto em minuto, diz-nos pela sua imponência, o respeito que temos que ter pelo tempo universal. Bem sei que estou para aqui a divagar, estou com tempo, é Domingo e tenho a roupa passada. Por sua vez, a máquina da roupa tem um relógio que sempre que acaba de torcer a roupa, apita para que eu tenha consciência do que tenho que fazer para não me faltar o tempo mais tarde. O mesmo se passa com o microondas, também este já veio com um relógio que não só marca o tempo mas também a intensidade da temperatura. Fantástico! Digo eu. Uma mariquice diria a minha avó, talvez até achasse que era coisa do diabo. Mas com tanta coisa para regular o tempo que temos obrigatoriamente que gastar, esquecemo-nos de arranjar um relógio com um apito que marque o tempo que temos para gastar com os que de perto merecem o nosso tempo. Alguns destes novos humanos, munidos de máquinas de relojoeiros consagrados, acabam por tentar fazer do seu tempo o verdadeiro tempo, chegando atrasados ao meu tempo. Estas esperas até que acabam por me trazer um tempo que até há bem pouco tempo não tinha, e sou agora capaz de pensar sobre as falhas dos tempos dos outros. Cheguei a uma conclusão, não sei se será uma grande conclusão, porque reconheço, que a idade muitas vezes já só me dá os bons exemplos para apoiar os raciocínios: No meu entender, talvez seja ignorância ou até talvez distracção. Hoje, os relógios não tem números, e a maior parte das pessoas anda perdida no meio de mostradores, uns que deveriam mostrar mas que no fim de contas não mostram nada. Estou seriamente a pensar, em comprar um swatch quartz, daqueles que dão horas na cabeça dos outros, quem sabe os possa acordar para a minha realidade temporal. Então, se houvesse um com uma porta para sair cucos, ficaria ainda mais feliz.
José Luís Lopes

2 comentários:

  1. O meu amigo fez aqui uma bela dissertação sobre aquilo que nos consome a todos, mais ainda nos tempos que correm em que tudo ganha uma dimensão que nos obriga a correr à velocidade da luz caso não queiramos perder o comboio com rumo ao futuro, futuro esse, que, segundo o tal relógio, é já o agora!
    Daí quase não termos tempo para nada...

    Beijo

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  2. Obrigado Cleo!

    O tempo na minha idade começa a ser um bem de primeira necessidade, escasso e não renovável. Sabê-lo consumir é agora uma prioridade absoluta. Descobri que muitos dos projectos que tinha já não são exequíveis, e outros correm igual risco se não me apressar no tempo que ainda resta. Veremos do que ainda serei capaz de fazer ao tempo. Gostava imenso de o tratar com desprezo, e um dia mais tarde, apresentar-lhe uns quantos projectos realizados e marcantes no tempo que construí com a minha família.
    beijo sempre grato e amigo

    JLL

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