19.12.09




A noite estava fria, tão fria que ninguém fazia ideia.As ruas desertas eram agora mais tristes ainda. De dia nem se notava, tudo parece mais agradável, camuflado pelos ruídos de fundo e o reboliço normal da vida. Pessoas e carros correm desenfreados para um qualquer compromisso inadiável, como se tudo dependesse da pressa que levam na ponta dos minutos que lhes restam para a hora certa... como se as suas vidas dependessem apenas disso. Chegar a qualquer lado a tempo e não ser repreendido nem penalizado por isso. Ou mais grave ainda, perder algo de que se arrependesse para todo o sempre...

Mas o dia já terminara há um bom par de horas e aos poucos as ruas foram-se esvaziando. Ficaram só os que não se conseguem separar delas, os que há muito passaram a fazer parte delas, como se fossem bibelots ou guardiões notívagos da cidade.
A temperatura baixou repentinamente e apanhou-os desprevenidos, nem as caixas de cartão novas que trouxeram das traseiras das boutiques vizinhas e os cobertores coçados que já tinham, lhes chegavam para se resguardar do frio cortante da noite. Alguns desistiram de resistir, levantaram-se e fizeram fogueiras em latas de tinta velhas que arranjaram na obra ali ao lado, paredes meias com o passeio das arcadas onde se costumavam deitar, por ser coberto e o mais recolhido das redondezas. As chamas aqueciam-lhes as mãos geladas e o vinho da garrafa que partilhavam gole a gole, tratava de lhes aquecer a alma empedernida pela cicatriz da solidão de cada um, naquela que era a noite mais triste de todas as que o ano tinha.
Talvez se não houvesse Natal, as noites fossem só noites. Umas mais frias do que outras, mas só mais uma noite sem qualquer outro significado que a tornasse mais triste ou menos triste do que as outras.

2 comentários:

  1. Natal é um dia doloroso principalmente para quem não tem opção e de sobra tem a demagogia das pessoas que se dizem boas.

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  2. vale a pena reflectir
    boas festas

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