20.6.10


São imagens esbatidas, quase apagadas, como aquelas fotografias antigas que mantêm enclausurados os rostos de homens de bigode e ar severo de generais austeros, contrastando com os daquelas figuras frágeis das tias de alguém, com grossos colares de pérolas falsas ao pescoço e alfinetes dourados pregados no peito, de sorrisos mansos e dóceis como se estivessem a contemplar uma paisagem serena de um pôr de sol de Agosto... Pena é que aquelas molduras de metal sejam as grades de uma prisão perpétua da qual são os condenados vitalícios, ali imortalizados, lembrando aos que ficaram as suas passagens pela vida da qual há muito que se foram. Que se findou no dia em que se despediram do mundo dos vivos e que para ali ficaram esquecidos sob naperons de rosetas brancas só relembrados de quando em vez, por alturas das limpezas do pó. Ainda assim, conseguem manter a pose e permanecem orgulhosamente silenciosas e indiferentes ao relógio de pêndulo que as fita num desdém insolente lá do canto oposto da sala e cujos ponteiros há muito que passaram a rodar no sentido contrário, marcando as horas ao avesso do tempo... são rostos surdos e calados, que insistem em estar, permanecendo no presente por toda a eternidade que um simples momento conseguiu suspender no tempo e deixar para a posteridade.

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