23.6.10

Vida de Feirante


A VIDA DE FEIRANTE

Saiba que a vida de feirante
É uma vida atribulada!
Seja perto ou distante
Põe-se a pé de madrugada.

Para que ao romper do dia
Tenha a sua tenda montada,
Expõem a mercadoria
Quantas vezes não vende nada!

Se o tempo fica triste
Quando está chuva ou vento
Quem vai à feira desiste
Porque mudou o pensamento.

Quantas vezes ficam indecisos
Se vai ou não trabalhar!
Quantas vezes têm prejuízos
Sem ninguém os indemnizar.

Paga o lugar adiantado
Três, quatro ou seis meses,
Deveria ser indemnizado
Quando falta certas vezes:

Por doença comprovada,
Por acidente ou mau tempo,
Com justificação apresentada
Após o acontecimento.

Mas a vida de quem trabalha
Por vezes é desatino
Se a má sorte atrapalha
São reveses do destino.

Por acidente ou doença
Se não pode ir trabalhar!
Quem é alheio não pensa
E quem aluga quer cobrar.

E se for uma autarquia
Quer que aquilo lhe reverta!
Quer receber a maquia
E o feirante que se aperta.

E se for particular
Impõe dever e respeito
Quer por dever também cobrar
Aquilo a que tem direito.

E o pobre feirante
Não lhes importa estar faminto
Querem que pague bastante
Não lhes importa o cinto...

Daquele que o aperta
Por modos que são demais!
E poucos estão alerta
Para casos tão reais.

Por isso vou apelar
Dizendo coisas bastantes
P'ra medidas se tomar
Na Associação de Feirantes.

Os dirigentes feirantes
Que tomem em atenção!
Como nossos representantes
Pedimos reivindicação.

P'ra pedirem a quem de direito
De forma justa e cabal
Para que haja mais respeito
Por quem trabalha e ganha mal.

Porque a vida de feirante
Partilhada com a mulher!
É trabalho extenuante
Que muito esforço requer.

Também empata dinheiro
Pensando sempre no final
Dá no duro o dia inteiro
E quase sempre como mal.

Come tarde e a más horas
E vai sofrendo todo o dia
E senhores e senhoras
Desdenham a mercadoria.

Ser feirante não é tesouro
Protesta por muitas razões!
Paga lugares a peso de ouro
Muitas vezes sem condições.

Deviam ter condições
Não ter sempre a mesma chaga
Vão-nos cobrando os tostões
Sem respeito por quem lhes paga.

Há Câmaras abusadoras
Que sem dó nem piedade,
São vampiras sugadoras
Que nos tramam à vontade.

Há outras moderadas
Que fazem preços concertantes
Que compreendem as más horas
Que caiem sobre os feirantes.

Por esses temos respeito
E muita admiração!
Porque reconhecem o direito
De quem luta pelo pão.

Mas há senhores doutra ideia
Que governam à revelia!
Como andam de pança cheia
Zumbam de quem a tem vazia.

Cobram em más condições
O que não está certo;
Sugam os nossos tostões
Em lugares de céu aberto.

Feiras com a área coberta
Todas as Câmaras devem ter,
Maior cobrança é correcta
Há mais condições a vender.

Nas feiras de Portugal
Nos lugares a céu aberto,
Decretar preço igual
Só assim está certo.

Ter um único cartão
Foi uma boa medida,
Finalmente houve então
Quem olhou p'la nossa vida.

Mas olhem que ser feirante
É pessoa sem deslize!
É ter coragem bastante
Vai de caras contra a crise.

Para isso precisamos fé
E queremos ser assim;
Porque o casal Senra é
P'ra ser honesto até ao fim!

(Memórias em Cantigas-2009, p.p.140/144,
do autor António Duarte Senra)

Sem comentários:

Enviar um comentário