6.4.10

há um cântico sombrio
ódio do grito envenenado
pela transformação do coveiro inocente
da enxada do louco furioso

o asilo
da terra saciada

e o sarcástico feito da culpabilidade
que o estômago devora
por conta dos anos que os olhos comem.

ao castigo
suportado que escorre no pensamento,
o êxtase é uma porta duvidosa
da palavra estropiada.

ao homem cabe
da nudez dos seus dentes
inventar fantasmas.

a angústia

a angústia cega da luz hipócrita
no recanto introspectivo
murcha

frágeis papoilas dramáticas

e eu descubro uma ferida
que num salto ao desconhecido
deixo aberta.

a astucia do leão morde de faminto a agonia
e o desprezível é uma membrana poética.

difícil é esmagar o crânio que me soluça
durante o sono.

é da luz que a transparência tem medo.

habita na sombra uma seringa voluptuosa semente
de cada momento.

não seria eu
se mais não fosse o ouvido
das fraquezas das asas dos pássaros.

e o suicídio
é a gravidez da uma lua cheia
de tão magra.

1 comentário:

  1. um poema que nos coloca nos dois lados da paisagem.
    gostei desta abordagem.
    e acaba em grande!
    abraço

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