27.5.10

Carta de um Pai ao seu filho Luís – Entrega das Insígnias

Hoje nada acabou, hoje tens um novo começo, um novo rumo. Hoje, deixo-te com asas que um dia foram minhas. Partirás, mas para mim nunca sairás de onde nasceste, é de dentro de mim que voarás em cada dia da tua vida. Serás sempre os meus olhos, serás sempre as minhas mãos, serás sempre o fruto que um dia coloquei dentro da barriga da tua mãe. Hoje, choro de alegria por atingires uma montanha maior do que a minha. Sei que levas tudo que um dia me propus ensinar-te, talvez não o tenha feito da melhor maneira, nem com a sabedoria que merecias, mas és meu filho, e um filho é tanto, que muitas vezes embarga a razão. Hoje, trazes para dentro de mim a paz que um dia sonhei, atingiste os teus objectivos, e eu por aqui me fico imaginando que tudo será sempre belo para ti. Hoje, o dia tem o mesmo brilho daquele em que pela primeira vez me disseram que era Pai. Tinhas-me tornado num homem, queria-te tanto, sonhei tantas vidas para ti. Nesse dia, aprendi a viver para ti, prometi-te que estaria presente em todos os dias da tua vida, e te defenderia de todo o mal do mundo. Prometi-te que nenhum dos meus erros seriam trilhados por ti por desconhecimento, prometi-te, que te amaria para lá das minhas forças, prometi-te, que iria ser Pai mesmo que tu em momentos pudesses duvidar se Pai era o que eu era naquele momento. Prometi-te, que seríamos os melhores amigos que alguma vez o mundo viu, sem nunca perder o discernimento de te dizer a verdade mesmo que esta me magoasse. A tua felicidade estaria sempre em primeiro lugar. Prometi-te, que estaria sempre de mão estendida para o bem e para o mal. Assim foi, e assim será para o resto dos meus dias, pois um filho é para sempre, não tem idade, não tem estatuto social, não é pobre nem rico, não tem só virtudes. Contarás comigo também nos teus erros, sempre. Hoje sou, então, verdadeiramente Pai. Cumpri, também eu, com o meu objectivo, deixar-te com a humildade de seres sempre o meu filho, o neto da avó Carolina que, como ela te disse, tanto te queria dizer e quando chega ao pé de ti diz que não se sabe exprimir; do avô Lopes que, lá no cimo, esboça aquele sorriso que tantas vezes lhe vi, enquanto te via crescer; da avó Teresa, do avô João, dos teus irmãos, da Andreia, dos teus tios, primos, e da Ua, aquela que primeiro me ajudou a crescer e depois fez o mesmo contigo e, claro, dos amigos, de uma árvore que eu sei que ainda agora começou. Hoje sei que este é o teu dia de festa, mas é também o nosso dia, o de todos aqueles que gostam de ti. Hoje, vou ser muito feliz, tão feliz que apenas no meu olhar vais reconhecer o teu Pai, hoje é um dia tão grande para mim, ai como eu queria abraçar este dia para sempre, queria meter-te dentro desta minha alegria e levar-te por todos os dias que vivi dentro de ti. Este Hoje, nunca será amanhã para mim, ficarei aqui sempre, dormirei debaixo do teu sucesso, do nosso sucesso, da nossa alegria, como é bom ser teu Pai. É tão bom, meu filho, tão bom, não queria acabar nunca esta carta, é tão minha, tão sentida, tão cheia de amor, tão enorme, que apenas me apetece amarrar-te, abraçar-te, beijar-te e dizer que estou orgulhoso de ti. Não é uma carta, é a alma dos nossos antepassados a dizer que agora serás tu a escrever a tua vida pelo teu punho.

És o três em volta do “L”, a corda que amarra o nosso sangue e que jamais se quebrará. Prometemos uma ligação eterna: o sol, sem o qual nunca serás capaz de fazer da tua vida uma caminhada feliz, soalheira, transparente, tranquila e em harmonia contigo; o Olho representa a visão, a capacidade de saberes ver o mais correcto para ti mas essencialmente para os que estão ao teu lado; a lágrima dividida é o suor e sangue que sempre tem as estradas honradas. E, no sangue deste número, o três, porque ao teu avô lhe demos o um, tens as letras que te alumiarão o teu caminho, F, família sempre, será nesta que encontrarás os valores que farão de ti um homem mais sábio; V, verdade, a vida constrói-se com verdade; T, trabalho, nada crescerá se não for fruto das tuas mãos; B, Belo, o gosto pelas artes, se não gostares das artes nunca compreenderás o mundo; H, honra, não necessita de definição, tu sabe-la; D, desfavorecidos, a vida não é lucro ou poder e, por isso mesmo, terás que encontrar tempo na tua vida para dar àqueles que nunca o tiveram, terás que respeitar sempre os que de ti dependem, terás que dar sempre um pouco do que tens a mais para os que têm a menos. Tu sabes que foi assim no passado, tenho a certeza que será assim no futuro.

Assim és, assim serão os teus filhos. Eu sei, sei porque sou teu Pai e um Pai sempre sabe tudo dos seus filhos.

2 comentários:

  1. viva jose luis lopes!

    um texto muito sentido e profundo. um texto onde todas as palavras são precisas.

    "Belo, o gosto pelas artes, se não gostares das artes nunca compreenderás o mundo " - fantástico!!!

    parabéns, abraço

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  2. assim é flávio,

    tive um dia muito especial, melhor, estes dias nunca acabam

    obrigado

    abraço

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