1.5.10


Disse-me que andava a cultivar silêncios, com o intuito de melhor poder treinar os músculos da virtude do pensamento, que, por descuido seu, já dava mostras de alguma fraqueza devido ao desleixo a que se tinha votado. Disse-me também, que se não tivesse tido um rasgo de lucidez naquele momento exacto e desse mais uns passinhos em frente, naquela direcção desnorteada, não tardaria muito a entrar numa espiral devastadora, rumo à vastidão do infinito mundo da imbecilidade. (Coisa que sempre criticara enquanto ser humano detentor de todas as faculdades mentais no seu perfeito estado de saúde. Mas um dia, num certo estado de desespero para onde a vida o tivera empurrado, e sem saber muito bem como, se viu agarrado a um galho que lhe pareceu firme ou teria sido levado na enxurrada). Seria pois, por certo, um caminho sem retorno com início na beirinha daquele precipício do buraco negro da insanidade para onde se costumam atirar todas as almas vazias que não souberam cuidar de si mesmas e se entregaram deliberadamente aos sugadores de cérebros a quem chamavam respeitosamente de pastores, passando assim a fazer parte de um vasto rebanho de suicidas voluntários sem qualquer tipo de vontade própria, limitando-se a seguirem atrás umas das outras... Pobres almas desperdiçadas e em torno de coisa nenhuma.


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