14.2.11

Valentim










Valentim, formado em amor, actualmente no desemprego, trabalha a recibo verde numa loja de conveniência. Acordou pela manhã estremunhado, ouvia incessantemente o seu nome na rádio, diziam que atirava setas embebidas de amor. Coisa estranha, ele que tudo sabia de amor nunca tinha aprendido nada do que estavam para ali a dizer. Ainda mais, como não colocavam a falar alguém com conhecimentos da matéria do amor, com canudo, com experiência em amar. Zangado, virou-se para o lado e não foi trabalhar. A loja de conveniência, única no bairro a vender artigos de o dia de namorados não abriu. Não se fez esperar o protesto da população namoradeira, ninguém já sabe namorar sem oferecer almofadas e peluches vermelhas. O desespero tomou conta da multidão. O tempo passava e este é o único dia do ano em que todos podem namorar, amar como nos velhos tempos. Os protestos subiram de tom, não havia tempo para contornar este problema, bem, alguns até sabem fazer almofadas, o que não sabem é dizer as palavras amorosas impressas a dourado nos corações que enfeitam as almofadas e peluches. Valentim levantou-se, foi trabalhar com um sorriso, esqueceu o trabalho precário, esqueceu os sacrifícios que o levaram até ao dia de hoje, ele sabe que para muitas mulheres, este é o único dia que são amadas com ternura, sabe que este é o único dia em que as palavras de amor são belas mesmo que escritas em peluches e corações da china e sabe que algumas não mais terão outro dia para se sentirem felizes, desejadas e amadas. Hoje serão deusas, serão deusas como sempre foram.

Hoje é dia de S. Valentim e eu amo-te ainda mais hoje do que ontem


José Luís Lopes



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