31.3.11

Ciclo das Pedras









Rolam pedras
Rolam sem parar
Rolam sem ninguém as ver
Rolam agitadas donas de montanhas
Mas rolam
Rolam
Todos os dias rolam
Rolam inchadas
Rolam papéis
Rolam livros
Rolam prosas
Rolam rimas
Rolam até palavrões
Mas rolam
Rolam
Todos os dias rolam
Rolam paridas
Rolam inveja
Rolam cobiça
Rolam piadas
Rolam maldades
Mas rolam
Rolam
Todos os dias rolam
Rolam quadradas
Rolam cegas
Rolam porque o outro rola
Rolam por rolar as pedras
Rolam arrogantes
Rolam uma
Rolam duas
Rolam três
Rolam de três em três
Rolam cem
Rolam mil e três
Rolam de quando em vez


Mas rolam
Rolam
Todos os dias rolam
Rolam do rolar as donas
De tanto rolar
Apagaram as montanhas
As nuvens
As árvores
Os lagos
Os rios
Os peixes
A terra

Mas rolam
Rolam
Todos os dias rolam
Mataram os olhos
Os ouvidos
As mãos
A boca
O nariz
O coração
Como pedra rola
Devagar
Mais devagar
Mas ainda rola
Rola
Só sabe rolar
Cada vez mais só
No seu rolar
Sem sol
Sem paixão
Rola como palavra inútil
Um dia
Deixa de ser pedra
Deixa de rolar
Deixa de viver
Restará pó




José Luís Lopes



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