24.3.11

Reivindimação

Nobre andarilho
sultão dos gastos solados

você eterno jovem
que averigua as profundezas,
ouve bem
ouve bem se não alquebrei dos enigmas o maior:

o amor
é inventado

por cada um
em seu livre molde...

O amor são muitos
- e todos lhe querem tomar
encabrestá-lo nos sufixos
todos querem por ele crédito

rugem tê-lo descoberto,
revelado...

mas amor que é amor
não se desnuda
não se procura:
inventa-se, claro!

(interrupção inescrupulosa)

Deixa-me te sussurrar
ao pé do ouvido,

estas palavras lanosas
que trazem consigo a tempestade:

meu amor
é incerto e nauseante

exige tudo do amante
garras e presas afiadas

meu amor é do mundo
é seu tanto vagabundo...

Este meu amor
que montei esboçado
por força de teimosias

é um tanto tarado
vive de quebrar protocolos
adoro cafuné ombro -colos!

...é bem indecente
mas de razão, potente
é um amor inconsequente

frágil volúvel volátil
às vezes até me escapa
corre embora com as lógicas!

...este meu amor,
que usei pra dominar o mundo
nada tem de surdo ou mudo

mas já dormiu imundo
já cantou a lama e o caos
amamentou de leite à pedra!

Um amor tranquilo
de paixões calmas

quase um autismo
de brio e ternura,

o olhar de águia
pestanejando o bote

impassíveis cálculos
e enfim a queda, o mergulho:

assim, pesca, o meu amor
pesca a cada dia,
do mar do sabor,
a dança e a cor.

(interrupção inescrupulosa)

...meu amor
é meio vagabundo
meio tarado

mas pensa amplo
e pisa fundo -

diz-me você então:
vale ou não a intenção?

que ouro valerá mais
que a ilusão de tal invenção?...

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