28.2.12

Acredita que os homens nascem da terra tal como nascem 
as papoilas. Acredita que os amantes existem para salvar o amor,
que a morte é o espelho inconsciente da vida, que as andorinhas
vêm para matar saudades, que os filhos saem pelo coração. 
Acredita na chuva, principalmente na chuva miudinha, 
que na terra escreve cartas de amor. Acredita no pano cru 
para bordar histórias. Acredita no sorriso franco dos animais, 
nos livros do Daniel, nas cítaras, nos escribas noturnos, 
no pão cego do poema, nas manhãs de hoje da Sophia,
nos automóveis azuis, nos pullovers azuis dos insetos. 
Acredita na dor das palavras esdrúxulas,
no sangue circunflexo do silêncio. só não acredita 
nos domingos e dias santos.

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