2.8.13

Não me peçam poemas de amor
Eu não amei o suficiente para vir aqui contar
O meu nome está na boca do inferno
De um ou outro merceeiro ao qual devo algum dinheiro
Não me peçam para escrever versinhos cor-de-burro-a-fugir
Com coraçõezinhos desenhados na perfeição
Eu nunca vi a Barbie mais gorda
Nem sei qual o significado de estar vivo
Não me peçam poemas com poder de sedução
Nenhuma palavra minha se atreve a falar de cor
E sinceramente estou-me borrifando
Para essa coisa a que chamamos lirismo
Tenho um caso bicudo com a solidão
Umas fugas de saudade
De realidades também
E por vezes espreito a vida pelo clitóris da Notre Damme
Portanto, não me peçam rimas pedagógicas
Soluções para o mundo
Nem histórias de puta madre
O meu cinema é outro
O escuro, que ninguém mo tire
Preciso dele e ele precisa de mim
Para daí nascer o fogo
Ah o fogo
O leito onde se forjam as palavras
As hóstias as vinhas os desejos
Os plantadores de amoras
E aquela coisa a que chamamos poesia.

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