12.2.10

Por favor, queria dois quilos de ilusões. Ilusões, já não temos, acabaram ontem. Mas temos fantasias tenebrosas, sei que não é o mesmo, mas tem efeitos desejados. Contra-indicações? Para já, queixa nenhuma. Melhor não arriscar. E sonhos avulsos, sei lá, qualquer coisa em promoção, um ir e vir num jacto celeste. Tenho apenas um, que veio devolvido de uma senhora muito rica que sonhava ser um navio de oito patas para rasgar o firmamento. Como se deu mal pelo caminho, teve de regressar de imediato, acabando por aterrar em si mesma e, quando se viu ao espelho, tinha a boca cozida por um grosso fio de silêncio. Dizem que viu algo semelhante a um céu a arder. Enfim, enlouqueceu-se.

Mas ainda tenho na prateleira esperanças em comprimidos a bom preço, ou então ideologias ficcionadas sobre a atitude animal no colo de Deus. Desculpe, não sou homem de conflitos, preferia algo mais concreto, sem peso de consciência, mais do tipo aventura. Venha comigo! O homem, vestido com um fato de grilo, conduziu-me para uns escombros onde anjos e saltimbancos e anões jogavam à bola. (pausa para respirar) Por favor, dê-me apenas um comprimido para acordar.

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