16.5.10

rua crepuscular

há-de chegar o crepúsculo
nas linhas macilentas de um velho
com o olhar marejado de recordações
e o corpo dobrado pela esperança.

aqui
um rafeiro espreguiça o tédio;
ali
um gato geme à porta fechada
– este mundo de silêncios espaçados
cavalga no lusco-fusco
da noite que ainda não é
do dia que já foi
enquanto o tempo escorre, vagaroso,
pela clepsidra de vidro estalado.

nunca lhes ouvi o nome ou a direcção
– que importa
se a rua
é apenas estilhaço de cristal
bocejando em cadência lenta
pelas galerias subterrâneas
do eco existencial?
(ainda assim, esperei à tua porta).

sem aviso,
o luar pousa-me nas mãos
lambendo o linho
que esconde as linhas,
e vazando os olhos de um cofre sem chave
que guarda aquilo a que, em tempos,
soube chamar alma.

hoje,
sou apenas ponto de passagem,
parede de sombras vigilantes
rosto com pétalas de indiferença
– louco, por que haveriam de reparar em ti?... –
onde os cães uivam à lua
e os gatos te confundem com a solidão.

2 comentários:

  1. viva amigo jorge!
    excelente poema onde certamente qq homem se perde e se encontra nessa rua.

    bemvindo a esta sua sua nova casa.

    abraço!

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  2. estou a gostar de te ler,
    é bom ter-te por cá.

    um abraço.

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