18.10.10

dois poemas que chegaram ao nosso mail

E somos animais quando quisermos...


Atenta a mulher perspicaz
Se o prazer não agarra os odores a orgasmo
Ali está a mulher curvilínea
Com o tacto de uma pele que legenda sexo no umbigo
Come-me a virgindade dos olhos
Que minhas mãos já muito dedilham os teus encalços
Ai! Como me perco nesses teus olhares descalços
Há um borbulhar de bulha feliz nas uniões
Quando o homem é na mulher,
Quando beijas os actos com as tuas constelações
Em tolices que são o que se quiser
Como fogo, não! Como artifícios de Fénix
As nossas bocas dançam e os poros suam
Contentamentos loucos, doidos e carnais
Não se afaga pó, afago-te a ti, afaga-se arte
E Somos animais quando quisermos.


Desfocado


Um candeeiro colorido à mão.
Quadros que circundam o compartimento pardo de brancas divisórias.
Um sofá não muito vigoroso e amovível.
Um monitor diminuto de simulações e virtualidades.
Gosto de fotografias
Os fotogramas que os pixeis desvendam
Os flashes macabros
O mórbido de uma foto
Essa foto
Distorcida
Desfocada, desmentida
Desmanchada
Desdita, Desgraçada
Amputada, esquartejada
Trucidada, chacinada, dissecada
Dizem que imortalizam o momento
E com que me contento?
Dos seus reflexos que decapitam meu delírio
Das suas arestas que mutilam minha prolifica hediondez
Arguido de crimes que não provo, depois os que fiz e desnorteio
E outros que vingo e olvido
Réu de um julgamento sem fim
Advogado de demónios cujas ordens
São a tabuada que nunca decorei
As facas que evocam meu chamamento satânico
Para que meu vampírico coração ressurja
De cinzas que pensem jamais o abrigarem
Juiz de um espelho que gane em minha vez
Pessoas que compõem apólices para um óbito
Meu
Que ainda não caiu
Nas funduras da cavidade de necrópoles.
Será que vale mesmo a pena? Valerá?!
A teimosia para que no fim
Saibamos que por mais acanhadas disputas que se vinquem…
A verídica tormenta ainda persevera
No chato que é andar por vexame dos dias
E domado pela dubiedade das cegueiras futuras
Sinto como que se caso a mítica lua cheia saísse hoje
Se teria ou não meias-medidas na minha possível forma incontrolável de agir
Medo de quem possa açoitar
Vivo destorcido
Desfocado
Emagrecido
Demasiado abafado,
Pela dualidade de negras energias que me influem
A minha cama de um só cobertor, o colchão folgado mas quente,
As janelas que não me aspiram confiança
Nem tão pouco as persianas que rangem, sem que a realidade tal o verifique
E em meus pesadelos, o meu corpo metamorfoseia-se
Em algo que não tenho coragem
De pedir visão a um reflexo de água
Sinto-me covarde para a continuidade do que é autentico
Nem bem já sei o que isso é
A veracidade
Tão desfocada
Como minha cara
Submersa num afogamento de imoderados cérebros
Atitudes e execuções por rematar.
Neste retrato de paisagens que duvido de o serem
Vejo-me na moldura
Como estou? Onde?!
Quem dera tal descaramento ter em acordar
Mas estou desfocado.


Gavine Rubro

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