8.1.11

Gavine Rubro: Bem-querer em inequação {prosa}

Aqui me deixo ir, pelas ondas da escrita, mergulhado em águas solúveis de uma existência empírica e nadando, sobre o dilúvio: estonteante,  diminuto e curioso que é a vida.
                Dizem que a matemática é a ciência mais exacta deste planeta, que através dela tudo achamos, e ao mesmo tempo a mais questionável, pois basta virem novos teoremas ou teses para refutar uma antiga norma antigamente posta como irrefutável. E os sentimentos, o abstracto, as outras artes, muitas vezes esquecidas e suplantadas à massiva existência que é a nossa, do Homo Sapiens Sapiens, conhecido nos dias de hoje como – Ser Humano, o Homem.
Não deixo transparecer em demasia o mistério de certos assuntos – insolúveis. Pessoas, forasteiros do destino, que só se intrometem, muitas vezes, nos caminhos para ocasionar brigas violentas; outras pessoas, familiares, que marcam pela sua notável experiência de vida, muitas dessas pessoas entristecem e muito, mas não maioritariamente pelas suas atitudes, sim pela sua não amizade pelo tempo, pois este acaba sempre por levar os melhores seres, mais cedo que as demais. Ainda outros, os amigos, uns que vêm num dia depois de uma borga, com quem se pode passar um dia mesmo sem o conheceres bem, trocando tudo, desde sorrisos inocentes a desabafos próprios que são mesmo daqueles que se quer mesmo contar e acaba-se por joga-lo/a para fora mesmo que a um desconhecido, depois o dia acaba, e nunca mais se o vê, pelo menos daquela forma; outros que são amigos de ocasiões, amigos que não deviam ser chamados assim, pois só estão geralmente lá para os bons momentos, mas um bem-haja a todos esses também, temos que agradecer aos trolhas todos por construírem a casa, pois embora os conhecimentos sejam do engenheiro, sem eles as casas também não seriam tão sustentáveis; os amigos diamante, os da acessão à letra, que mesmo não estando com eles sempre, eles estão connosco, nas veias férteis que sustêm o nosso coração,   e os verdadeiros amigos: todos têm brigas e muitas, pois os outros nunca as têm, simplesmente não querem saber e resignam-se à rotina pesarosa dos dias sem afinco, já um sábio dizia que “o ser humano é o único que vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido”.
                Pois e eu não quero ser mais um desses comuns homens. Vocês querem? Quero aqui falar "sobre" amor, não "de" amor. Adorei a forma como assim se disse isto no filme "Pecado Original", o misterioso e romântico filme de Michael Cristofer. Aqui falarei de uma forma abrangente, mas sempre opinativa, pondo de lado os dogmas e resumindo-me apenas ao essencial, o amor em si. Que vai desde o platónico, passando pelo familiar, amistoso, até ao pecador, verdadeiro e carnal.
                Olho sempre que cá venho, a este paraíso descampado, por aquela varanda, um céu redondo sem vértices e estrelado, quase que parece um tapete do avesso que está pousado nos céus. Nestes instantes hipnotizo-me a mim mesmo e sinto:
                Ricos ou pobres, todos amamos e a maior prova do amor pode até vir do sacrifício. Quando a correspondência não equivale num par, deixarmos partir a outra pessoa, mesmo sendo a única maneira e que à mesma possa dar-lhe uma má imagem de nós mesmos, para ela ser feliz com outra pessoa, melhor que nós – pois é olhada com um brilho único nos olhos, o brilho de quem ama, de verdade. O olhar não é capaz de iludir, ele mata simplesmente qualquer rosa pronta a enamorar-se pelo pólen que é a paixão, transportada pelos ventos condutores que são a sinceridade inquestionável de duas almas, não tendo obrigatoriamente que ser iguais em nada. Caracterizam-se sim pela diferença.Quando se ama alguém e erros ocorrem, não se esquece mas perdoa-se. Isso é o verdadeiro e incomensurável amor. "Se amas mesmo alguém libertas essa pessoa, se ela nunca voltar é porque nunca foi tua. Se voltar, é tua – para sempre". O amor é assim mesmo, é um pombo-correio que tens como garantido não por palavras, mas por saberes de cor como voam as suas asas. Há quem já tenha dito que o amor é a “amizade com asas”, não sei, creio tratar-se de um sentimento tão abstracto e tão profundo que é compatível com tudo e nada ao mesmo tempo, ou seja, amizade e amor podem ou não ser compatíveis, ou também pode-se dizer que o amor é outro grau de amizade. Fazer sexo ou fazer amor, são ambas as coisas algo que, queira-se ou não,  são a mais alta forma de prazer humano. Enfim, estas fugazes palavras não são em nada dedicadas a ninguém em especial, mas a todos. Amem e deixem amar. “Sejam felizes e façam os outros assim também”.
                A verdade, por muito tresloucada que possa ser não é por isso uma mentira, e a ultima coisa que envelhece numa pessoa é o seu coração. Na matemática existe um gráfico chamado de ortogonal, com o eixo dos “X” e dos “Y”. Pois, dando dois valores a cada uma das variáveis, se existir uma igualdade marcar-se-á um pontinho fixo no local pretendido. Já quando se verifica o contrário - numa inequação – o que marcará a localização será uma circunferência só feita com um traço e com uma circunferência do tipo aberto no seu interior. Ora daqui vem o título desta crónica, pois numa inequação a fórmula pode conter todo o gráfico excepto esse mesmo pontinho, onde se cruzam “X” e”Y”. Isto quer dizer que a referência existindo, de tão forte que é, é como lá não estivesse, pois nada consegue tocar ou interferir nela – e isto, (e muito beneficamente menos e mais) é o Amor.

Gavine Rubro
[texto também disponível aqui]

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