4.1.11

o pai não o deixava escrever poemas, porque para o seu pai,
escrever poemas é coisa de maricas, não deixam crescer a barba de um homem e,
um rapaz, para ser homem a sério, tem de primeiro ir à bola, aprender
como se racha lenha numa só machadada.
mas o rapaz, lá na mesa de jantar, dizia que tinha um pássaro
dentro do coração que queria voar e, só por dizer,
o seu pai batia com a mão na mesa que o fazia assustar e fugir para o quarto,
onde, sozinho vai crescendo com os seus poemas escondidos na cabeça,
lá num cantinho,
pois para ele, a cabeça é o melhor lugar para se esconder de tudo
e de todos. Um dia, enquanto brincava na rua, caiu, deu de corpo inteiro
no chão e desmaiou. O seu pai estava por perto e foi de
imediato socorrê-lo e, ao ter o filhos nos braços, cheirou-lhe a morte.
E chorou. Chorou tão intensamente que, uns pequenos pássaros,
vindos da ferida aberta do lado esquerdo do peito do rapaz, foram-lhe beber água aos olhos.

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