5.1.11


quando os invernos se encontram

A noite chegava mais cedo, ali trazida pela mão do inverno. As candeias de azeite penduradas nas paredes, que se desfaziam em farrapos de cartão, minadas pelos insaciáveis e devoradores insectos microscópicos que se haviam escapado do seu profético cárcere de milénios esquecidos, não chegavam para alumiar a solidão e fazer frente às sombras que se agigantavam soalho fora, engolindo os trastes que mobilavam o casebre. Fora construído em tempos com o suor dos velhos que o habitavam e que agora se confundiam com os espectros da morte em gestação no ventre da escuridão, com quem partilhavam mais um serão interminável, só entrecortado de tempos a tempos com uma ou outra palavra, interrompendo dessa forma, o silêncio dos pensamentos em que ambos se abandonavam numa mudez de cansaços.


1 comentário:

  1. Este texto dói. Dói mesmo! Profundamente! Dum realismo que nos faz pensar, sem conseguir sorrir a uma eventual perspetiva de retrocesso no tempo ..., que se consome nessa escuridão ...

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