16.4.11

num abril e fechar do tempo









meio-dia. metade de um dia ganho ao tempo  - doze horas. setecentos e vinte minutos. quarenta e três mil e duzentos segundos. biliões de micro espaços tempo – ainda não há big bang – o sol está a pique. os sorrisos caídos tropeçam nas pernas que rasgam abril. pedras em silêncio. janelas fechadas. mãos redondas em bolsos quadrados. geometria moderna. picasso. cubos. cores. deformações. intuições de aguarela e a boca resmunga  – ainda uma criança chora no tempo. arranca cabelos que o ligam ao meio-dia de todos os dias – meio-dia. meio copo vazio. os sapatos alinhados. engraxados. presos por atacadores pretos a ponteiros de relógios que correm num pé só – meio-dia. meio dia de coisa nenhuma. não há tarde que não traga noite. escuridão – o corpo quer dormir. dorme. dorme à velocidade da luz. espera outro meio-dia. o futuro gira o passado na ponta de um dedo – meio-dia. o mesmo sol. a mesma nuvem. o mesmo pássaro regressa. as mesmas pedras em silêncio. as mesmas janelas. a mesma calmaria. a mesma criança a enrolar os cabelos – meio-dia. sossego. toda a tempestade traz sossego. um bater marca o corpo. ouço agora como nunca. gira como a terra gira. em círculos. rápido. muito rápido . em descompasso . vermelho bate. bate. bate e as veias a galgar abril. mais um abril. outro abril e os  neutrões sempre a crescer. a crescer. a crescer. e o ar a desaparecer – meiodia e o futuro cada vez mais cansado – meio-dia em abril. meio-dia de uma vida. meio-dia de um dia cada vez menor




sampaio rego



Sem comentários:

Enviar um comentário