10.7.11

O pai não o deixava escrever poemas, porque para o seu pai, escrever poemas é coisa de maricas, não deixam crescer a barba de um homem e, um rapaz, para ser homem a sério, tem de primeiro ir à bola, aprender como se racha lenha numa só machadada. Mas o rapaz, lá na mesa de jantar, ao dizer que tinha um pássaro dentro do coração que queria voar, o seu pai batia com a mão na mesa que o fazia assustar e fugir para o quarto, onde, sozinho, vai crescendo com os seus poemas escondidos na cabeça, lá num cantinho, porque para ele, a cabeça é o melhor lugar para se esconder de tudo e de todos. Um dia, enquanto brincava na rua, caiu, deu de corpo inteiro no chão e sonhou. O seu pai estava por perto e foi de imediato socorre-lo. Ao ter o filho nos braços cheirou-lhe a morte. E chorou. Chorou tão intensamente, que uns pequenos pássaros vindos da ferida aberta do lado esquerdo do peito do rapaz, foram-lhe beber água aos olhos.

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