14.12.11

cadáver procura-se





jackie k. seo




as mãos. outrora possantes. crentes na imortalidade atrofiaram. enroscaram-se em volta dos pulsos – são agora escadas em caracol para chegar ao inferno – subiram. subiram. subiram. degrau atrás de degrau até que um dia. envelhecidas pelo tempo suicidaram-se no silêncio do corpo – maldito corpo que pariu umas mãos assim. maldito belzebu. maldita língua. se soubesses ao menos dizer o meu nome. talvez ainda fosse a tempo de colar a cabeça a outro corpo – aproveitava os olhos. os ouvidos. a boca. o sabor dos dias nebulosos. das maças da porta da loja. da espiga vermelha. o casaco aos retalhos. os sapatos de verniz com aquela fivela dourada. o pente que arrastava o cabelo para trás do nada. o old spice a fingir o ar do mar – aproveitava tudo menos o coração – era então outro – sempre disse que este coração haveria de me levar á morte




sampaio rego



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