21.3.19

O sol a derreter-se num manto vermelho


O sol a derreter-se num manto vermelho que cobria o horizonte. Via-se bem ali da lomba, pois que a clareira no meio do pinhal, permitia alcançar mais além do que no resto do caminho desde a Despresos, visto que o carreiro, todo ele entre os grossos pinheiros de sangria e estes a não deixar. Às cavalitas do meu pai, bem segura pelas mãos dele, sentia-me a voar, sem, no entanto, possuir quaisquer asas. Logo atrás de nós, a minha mãe com a minha irmã numa cesta à cabeça segura por uma mão na asa visto que a outra ocupada a equilibrar uma sachola ao ombro. Depois, mais duas ou três pessoas que vieram ajudar na sementeira, faziam a algazarra de vozes e risos própria de quem, apesar de tudo, se sente feliz por ter chegado ao fim de mais um dia com aquele espírito de missão cumprida e pela qual valia o cansaço que trazia no corpo. Mais à frente, lá iam as ovelhas, mansas, mas as cabritas aos saltos por cima dos muros, mordiscando uma carqueja ou moita, aqui e ali, conforme as fossem encontrando. Essas eram as primeiras a chegar e esperavam junto ao curral, engolidas pelo lusco-fusco da noite que lá vinha. Ao longe, ainda o clarão vermelho do sol que entrementes desaparecera, a anunciar mais um dia de calor que haveria de nascer dali a algumas horas.

Cleo

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