7.12.09



Teço o instante que invento, no envolvente abandono a que me ofereço sem resistência e me deixo enrolar na seda de um minúsculo casulo, preso a um ramo imaginário de um plátano milenar, que eu sei, existir, algures num conto de um livro infantil que li há muito, muito tempo e me ficou retido na memória, para que hoje o pudesse ir lá buscar e trazer para esta minha quase história...
Volto ao instante que teci, levada pelo abandono a que me ofereci, ciente de que seria essa a passagem que me levaria a entrar no mundo secreto dos meus sonhos. Um mundo só meu, onde o tempo é o meu servo e me obedecerá sem demora, num estalar de dedos, a um delicioso capricho do momento, devolvendo-me ao presente aquilo que no passado parecia nunca mais ter fim, mas que um dia se perdeu no inevitável desgaste de sentimentos singulares. Uma espécie de castigo merecido, pelo excesso de zelo desperdiçado em causas de casos perdidos... enganos da vida.
Perco-me em fantasias que me povoam os pensamentos e me toldam os sentidos... recordo o perfume que me embriagava os dias e me adormecia as noites passadas em claro. Aquele momento mágico, de um encantamento inexplicável em que as bocas se calam, o coração palpita e as mãos... suadas e trémulas, denunciam o sentimento que só a alma conhecia até então e que muito bem guardou em segredo.
Mas como tudo na vida, há sempre um fim que dita o fecho de um ciclo.
Foi ali mesmo, na velha ponte de madeira, que dobrei a tristeza e a rasguei em pedacinhos tão pequenos quanto os vestígios do sal das minhas lágrimas, vertidas ao longo de quatro anos da minha vida... lancei-os na água do rio que os levou na corrente para longe do alcance da minha vista.
Na longa distancia que nos separa, os muros existem irremediavelmente erguidos entre nós! Mas o jogo da sedução não conhece regras nem limites e mesmo não parecendo, ainda se atreve a desafiar as nossas mentes, que, incautas, se deixam seduzir no indizível que se esconde nas entrelinhas dos nossos silêncios, tão cúmplices... tão cruéis... que permitem que nos espezinhem as recordações dos instantes que vivemos num passado inconsciente, num equilíbrio desconcertante, entre o fio da navalha e o chão sem rede... Enquanto houver sonhos no horizonte e os desejos flutuarem muito além das palavras que eventualmente forem ditas, não haverá nada que consiga travar os impulsos cegos e surdos que se riem das verdades e das mentiras.
Na contradição do sentido sem grande sentido... invento um fim.
Toca-me...

Sem comentários:

Enviar um comentário