29.10.10

Naquele tempo usava-se bata branca na escola primária. E se se tivesse o azar de a esquecer em casa o mais certo seria ter de voltar a fazer o caminho de volta para a ir buscar - afinal era só subir o monte! Talvez 1 Km em linha recta; coisa pouca... Ou então, umas boas réguadas logo pela fresquinha cuidariam para que se não voltasse a repetir o esquecimento! As carteiras eram de madeira maciça, ligeiramente inclinadas e com o assento incorporado. No topo tinham uma cavidade arredondada onde se pousavam o lápis de carvão e a caneta de tinta permanente com a qual se escrevia o ditado. A borracha, meia azul meia cor de tijolo, ficava por ali à mão... Havia ainda um buraco redondo com um tinteiro de louça branca que não nos servia para nada, mas para estar ali, por certo que teria sido de grande importância no passado; talvez até guardasse ainda, na escuridão do seu interior, ressequidos restos de tinta na qual outros antes de nós, teriam molhado os seus sequiosos aparos.
Na parede, ao lado do quadro preto, um mapa de Portugal em tamanho grande cobria uma boa parte da parede que, orgulhosamente submissa, ostentava o respeitoso retrato de Salazar - "O Obreiro da Pátria" e ainda um crucifixo a lembrar a doutrina obrigatória e vigente de então (consta que existem escolas de aldeia de onde ainda nem foi retirado...). Na gaveta, ao lado do livro de presenças uma régua bem grossa, impunha, mais que o respeito, o mêdo que nos perseguia dia após dia das nossas vidas, nesses tempos de outrora em que para além das lições de gramática e aritmética, se aprendia também em cada passo dado no longo caminho da escola feito de suor e cansaço, o significado da palavra: sacrifício!
(fotografia da minha escola primária, na aldeia de Benfeita e que hoje é só mais uma das tantas que o governo mandou encerrar)


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