29.10.10

Um poema de Gavine Rubro: Insomnia

[Imagem por Vera Fernandes]

Insomnia

Neste sopro frívolo de insónia
Escrevo com as ramelas dos olhos cansados
Com a lágrima seca pelo olho
E resquícios de baba no canto da boca.
Nesta madrugada tudo me inquieta de uma forma caótica
Sou panela rústica de pressão que verte fumo comprimido
E de uma forma caótica tudo me inquieta no aqui, no agora
O coro dos sapos para lá da janela
O ranger das janelas pelo sebento fulo vento
O gotejar pela torneira ríspida da casa de banho
Este mosquito, este mosquito assassino que teima em zumbir no meu ouvido
E o meu relógio, cujos ponteiros tão vagarosos.
O sol nunca mais nasce e continuo com insónias
Insónias sem motivo aparente, a insónia displicente.
Tento comer algo pela boca e pela gengiva de jejum
Mas o pão tem bolor verde, o leite azedo
O açúcar nada em formigas e os cereais em mortas baratas
Que podridão! Parece que ninguém vive aqui há milénios de tempo
Isto fede que tolhe. Cheira-me a pus de morte
Pus de uma bolha que nem devia tentar arrebentar.
Há cadeiras só com os contornos de madeira
Cadeiras que parecem decorativas à casa
Quadros cheios de pó, cinza e mil e um cinzeiros espalhados
Cheios de beatas idosas, seringas de sida, joints em excertos.
Neste sopro sussurrante de insonolência
Pútrido não quis eu dormir.
Nem os sapos, mosquitos, janelas, torneiras
Nada! Sinto-me desintoxicado da pureza, bondade
E imune à saúde,
Vagabundo drogado pela Heroína de chocolate que é o romance
Bêbedo viciado na vodka que é o sexo
Um viciado anónimo pelas facas que percorrem o altruísmo.
É de noite e preciso é só de um bom café.

Gavine Rubro

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